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Diane di Prima, loba indômita

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Por Rogério de Campos*

 

Até onde sei, a imprensa brasileira também começou a noticiar a morte de Jack Kerouac uns 20 anos depois de ela ter acontecido. Então talvez não seja por machismo que a morte de Diane di Prima, no dia 25 de outubro, tenha sido tão ignorada por aqui. Mas teve os textos bonitos da Larissa Oliveira e da Ariane Ribeiro (“Ela foi e sempre será o ‘pássaro que voa ao contrário’”)  no Mulheres da Geração Beat.

Fora do Brasil, foram muitos os textos e homenagens. Selecionamos aqui alguns. 

(Por favor, talvez eu esteja sendo injusto e não tenha notado outras matérias sobre di Prima que saíram no Brasil. Se você souber de algo, por favor, avise para acrescentarmos aqui).

 

“Ela lutou pelos direitos queer, direitos trans e direitos das mulheres muito antes da indústria da moda e de as hashtags começarem a inundar os movimentos políticos”

“Durante seis décadas, sua escrita confrontou os estereótipos tradicionais do corpo feminino, de como ele deve parecer, pesar e ser desejado. Ela foi, a meu ver, a verdadeira libertadora sexual dos anos 60 – uma mulher que escrevia perigosamente, vivia loucamente e amava com ousadia, até o último suspiro”.

“Para sobreviver neste mundo como uma mulher, ela aprendeu, era  necessário viver em um estado de insurgência e fazer as pazes com esse fato”.

“Rejeitou as formas tradicionais pelas quais as mulheres se vestiam, criavam e amavam. Ela se via como uma arma a ser desdobrada – não, detonada – contra seus opressores. Ela escreveu sobre a igualdade dos sexos. Ela escreveu sobre mulheres como lobos, mulheres como predadoras, como caçadoras, como vilãs. Ela escreveu sobre mulheres gordas, mulheres queer, mulheres andróginas, mulheres desobedientes, mulheres como deusas, como pássaros, como o vento”.

Amber Tamblyn, atriz, escritora e ativista (uma das fundadoras do Time’s Up)  escreveu um depoimento muito bonito sobre sua relação com di Prima, na New Yorker

 

“Por causa da vida que ela viveu e da imagem icônica da ‘mulher Beat’, a extraordinária gama de fontes e conhecimentos que entraram nos escritos e pensamentos de di Prima quase não foram explorados”, diz Ammiel Alcalay, professor do Queens College, da City University de Nova York. “Desde a descoberta de Keats, quando adolescente, até a visita de Ezra Pound durante sua prisão no Hospital St. Elizabeths, Diane sempre esteve conectada aos mais velhos e aos seus contemporâneos mais importantes”.

The New York Times

Diane e Allen Ginsberg

“Uma noite nos anos 1950, Diane di Prima estava em uma festa na casa de Allen Ginsberg, em Nova York. Festa de poetas: falar, ler, fumar e beber.  Mas chegou as 23h30 e di Prima disse que estava indo para casa, porque estava quase na hora da babá ir embora. Jack Kerouac, também um convidado, gritou: ‘Di Prima, a menos que você esqueça sua babá, jamais será uma escritora’. Diane di Prima foi para casa – e se tornou uma das vozes proeminentes da Geração Beat”.

Andrew Limbong – NPR

 

“A mais importante mulher do movimento beat”

The Washington Post

“Ela fez uma espécie de defesa eterna da não acomodação”

Corey Seymour – Vogue

“Uma alma livre que via a vida como uma caixa de bombons cheia de oportunidades e prazeres”.

Los Angeles Times

“Seus escritos mais transgressivos não são apenas sobre possibilidades sonhadas, mas sobre a radicalidade de existir, agora, em um corpo ao lado de outros corpos. Ela era uma escritora que acreditava no futuro, mas, mais do que isso, ela era alguém que acreditava no presente”.

Anna Fitzpatrick – Harper’s Bazaar

 

“Sua poesia ganhou uma nova ressonância nos últimos anos, conforme uma nova geração de ativistas foi às ruas para protestar contra o racismo, o fascismo e a brutalidade policial” diz a jornalista Sheena Goodyar, para a CBC (Canadian Broadcasting Corporation). Essa matéria traz também uma emocionante entrevista com a premiada radialista e jornalista Dominique di Prima, filha de Diane e do poeta negro Amiri Baraka. Dominique fala de como foi ter Allen Ginsberg como baby-sitter, de como Diane enfrentou o racismo quando este mostrou sua cara feia para a filha, e do grande revival da poesia da mãe no formato de citações feitas pelo movimento Black Lives Matter:

Dominique di Prima (filha de Diane di Prima e Amiri Baraka)

“Fizemos uma festa de aniversário para ela quando completou 80 anos e havia punk rockers, pessoas trans, velhos hippies, beatniks e jovens adolescentes. Foi o grupo muito diversificado. E isso me fez sorrir porque mostrou que as pessoas para quem minha mãe significava algo apareceram por ela. E ela ficou feliz em abraçá-los. Uma mulher trans que me disse que minha mãe foi a primeira pessoa a lhe dar um par de brincos. Um velho hippie me disse que minha mãe era uma das veteranas que nunca se venderam”.

CBC

 

“Poesia, para Diane di Prima, era uma coisa viva. A poesia vive em mitos, histórias e textos herméticos obscuros tanto quanto vive nas cadências e ritmos da vida cotidiana: refeições, casas, filhos, amigos, acontecimentos do dia a dia. Em nenhum outro lugar esta visão da poesia como uma entidade viva é mais marcante do que nos livros de Di Prima”.

Iris Cushing – Frieze

 

“É difícil imaginar, no mundo da literatura, alguém tão independente quanto a poeta Diane di Prima”

Hilton Obenzinger – The Book Haven

 

Diane di Prima declama seus poemas em um antro beatnik de Nova York, nos anos 1950.

“Diane não foi apenas uma pioneira da Geração Beat, mas uniu e transcendeu as gerações subsequentes em sua jornada inexorável para viver uma vida autêntica (…) Desafiou as barreiras na vida como o fez em sua obra”

The Beat Museum (San Francisco)

 

“A grande missão da poeta Diane di Prima foi ir contra a maneira atual como a sociedade se organiza, e sua armas foram suas palavras”

Fahrenheit Magazine

 

 

“Ela sempre esteve muito envolvida politicamente, inspirada no anarquismo de seu avô, Domenico Mallozzi. Militou principalmente ao lado das feministas, mas também contra a gordofobia, após ter testemunhado a violência de um grupo de crianças contra um sem- teto obeso”.

Pro/Prose Magazine

 

“Falava de fazer a revolução, do amor, de não se deixar tiranizar, e da menstruação”

El País (Espanha)

 

“A loba mais indômita, conseguiu desmantelar a casa do senhor”. 

Silvina Friera – Página 12 (Argentina)

 

“Junto com Ginsberg, Kerouac, Lawrence Ferlinghetti, as tribos de anarquistas americanos e europeus, feministas ferozes e os Diggers de São Francisco, a quem amou e com quem trabalhou, di Prima pertence eternamente à grande contracultura americana”.

Jonah Raskin – Counterpunch

 

“Morre a melhor mente da geração beat: Diane di Prima, a poeta das menstruações e das estrelas a que se tentou silenciar”

Luna Miguel – el Diário (Espanha)

 

*Rogério de Campos é editor, tradutor e escritor. É autor de Imageria – o nascimento das histórias em quadrinhosO Livro dos SantosSuper-Homem e o Romantismo de Aço Revanchismo, entre outros. E criador da Veneta.

 

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