Apesar de seus esforços nos treinos de jiu-jitsu e outras artes marciais, Horst Wessel não era grande coisa numa briga. Mas ele era bom em simular valentia e provocar esquerdistas. Por isso, Wessel era um membro em ascensão no Sturmabteilung, o grupo paramilitar do Partido Nazista.
Mais conhecido como SA, ou camisas pardas, o Sturmabteilung surgiu no início dos anos 1920 com o objetivo declarado de proteger os direitos de expressão dos líderes nazistas. Seria a força encarregada de garantir a segurança das manifestações nazistas. E, de fato, ela também fazia isso, mas sua principal função era atacar comunistas, socialistas, sindicalistas, judeus, ciganos e homossexuais. Sua camisa marrom era herança do uniforme das tropas coloniais alemãs.
O grupo era formado basicamente por jovens desempregados, muitos deles já envolvidos em atividades criminosas. Seguindo o exemplo dos fascistas italianos, a SA se organizava em bandos que, com frequente apoio das forças policiais, vandalizavam redações de jornais esquerdistas, sedes de sindicatos, lugares de reunião de comunistas, lojas de judeus etc. Wessel era líder de um desses bandos em Berlim.
No início de 1930, Wessel teve uma briga com a viúva Elisabeth Salm, de quem sublocara o apartamento onde vivia com a prostituta Erna Jänicke, de quem, segundo algumas versões, ele seria cafetão. A razão primeira da briga foram aluguéis atrasados, mas Salm também temia perder os direitos legais sobre o apartamento caso fosse descoberto que Jänicke exercia seu trabalho ali.
Salm era viúva de um militante comunista e apesar de não ter grandes simpatias pelo KPD (Kommunistische Partei Deutschlands) procurou no dia 14 de janeiro velhos camaradas do marido para que a ajudassem a expulsar Wessel do apartamento. Ao que se sabe, os comunistas não se interessaram pelo caso da sra. Salm até descobrirem o envolvimento de Wessel. Recentemente, Wessel havia liderado o bando que invadira um bar frequentado por comunistas. Cinco dos frequentadores no local haviam sido muito espancados por Wessel e seu bando. Para maior revolta dos frequentadores do bar, a polícia, quando chegou, liberou os nazistas e prendeu pessoas que haviam sido vítimas da violência. Além do mais, naquele mesmo dia, em Berlim, um jovem militante comunista de 17 anos havia sido baleado por um camisa parda.
Alguém encarregou Albrecht “Ali” Höhler de resolver o caso. Existe a suspeita que Höhler tinha já diferenças pessoais, extra políticas, com Horst Wessel. Seja como for, ele caprichou demais na missão: ao invés de simplesmente dar uma surra em Wessel e expulsá-lo do apartamento, Höhler atirou na cabeça do nazista assim que ele abriu a porta.
Wessel não morreu imediatamente. Na verdade, passou mais de um mês no hospital e acabou morrendo por septicemia no dia 23 de fevereiro de 1930. E esse tempo todo foi perfeito para os planos de Joseph Goebbels, na época líder regional do Partido Nazista. Há alguns anos que Goebbels procurava um mártir para a causa nazista, para reforçar o discurso de que Partido Nazista era vítima do Sistema, supostamente dominado pelos marxistas e judeus. No final de 1928, Goebbels tinha se entusiasmado quando Hans Georg Kütemeyer, outro militante da SA, foi encontrado afogado em um canal de Berlim. De imediato, Goebbels acusou os comunistas pela morte, mas logo ficou evidente que a autópsia da Polícia falava a verdade: Kütemeyer caíra de bêbado no canal e se afogara.
Wessel era um cadáver muito melhor. Até porque era mais fotogênico que Kütemeyer. O tempo que Wessel demorou para morrer foi o bastante para Goebbels preparar o enterro mais espetacular. O jovem rufião foi transformado em santo pela imprensa nazista. Um poema dele foi transformado em letra do hino do partido nazista (e depois seria o hino da Alemanha nazista).
É essa uma das histórias que Jason Lutes conta em seu livro Berlim.
Ruas, praças, escolas, bairros, navios e unidades militares receberam o nome de Horst Wessel. Em 1933, os prisioneiros do campo de concentração de Dachau foram obrigados a erguer um monumento a Wessel.