Em Ikkyu, o quadrinista Hisashi Sakaguchi conta a história do mais famoso monge budista do Japão e ao mesmo tempo apresenta o pensamento de Ikkyu Sōjun e faz uma introdução à sua poesia. Mas Sakaguchi faz ainda mais: cria um grande panorama de um período decisivo na história do Japão, no século XV. Decisivo tanto na política e na economia quanto no campo cultural e religioso.
O imperador Go Komatsu (1377-1433) com a imperatriz Hinonishi Motoko (1384-1440). Conta a tradição que Ikkyu seria filho bastardo de Go Komatsu.
É um momento em que o Japão se abre para o mundo exterior e absorve muito da cultura chinesa. Essa abertura é também comercial, e isso amplifica uma brutal transformação da economia japonesa. O mundo rural sofre com a ascensão do poder financeiro urbano. É um momento de várias guerras e rebeliões. Mas é também o momento em que florescem diversas das manifestações tão características da cultura japonesa, como a caligrafia e a cerimônia do chá.

O Ashikaga Yoshimitsu (1358-1408) foi o terceiro xogum Ashikaga e marcou o auge de sua família. Após sua morte, começou uma guerra entre seus filhos pelo poder.
A história de Ikkyu acontece durante o período em que o Japão foi governado pelo xogunato da família Ashikaga. É o chamado Período Murumachi. Ikkyu nasce quando o xogunato Ashikaga vive seu auge. O xogum Ashikaga Yoshimitsu foi o homem mais poderoso do Japão no final do século XIV e início do século XV. Ainda que o país tivesse um imperador, Go-Komatsu, quem mandava de fato era Yoshimitsu. Foi ele quem, por exemplo, unificou o país, depois de décadas em que este ficara dividido em corte do norte (com capital em Kyoto) e corte do sul (com capital em Yoshino). Yoshimitsu reestruturou a administração do país, massacrou as rebeliões e promoveu uma aproximação com a China e Coreia. O imperador da Dinastia Ming retribuiu referindo-se a Yoshimitsu como “rei do Japão”.
Ashikaga Yoshimitsu também teve importância no desenvolvimento da cultura japonesa. Foi o mecenas do ator, dramaturgo e teórico Zeami Motokiyo, maior responsável para a evolução do Nô em principal forma teatral do Japão. A abertura para China provocada por Yoshimitsu resultou em um grande influxo da influência chinesa na literatura, arquitetura, filosofia e religião. Yoshimitsu privilegiou o Zen Budismo, transformado quase que em religião oficial do Japão. Por outro lado, passou a controlar os principais templos. Aparentemente, sua ambição era fazer com que seu imenso poder transcendesse o mundo material e ganhasse uma legitimidade religiosa.
O primeiro livro dessa série mostra, por exemplo, um
legendário encontro que Ashikaga Yoshimitsu teria tido com Ikkyu. Este era na
época ainda uma criança, mas já vivia em um templo budista e chamava a atenção
como um prodígio de inteligência. Segundo contam as histórias, o xogum, do alto
de sua soberba, pretendia se divertir às custas do menino. O tão temido
Ashikaga Yoshimitsu tinha absoluta certeza de que aquele garoto não seria páreo
para sua inteligência. Mas o encontro não saiu como xogum esperava, e quem
acabou sendo motivo de riso foi ele.
Trocar
Ashikaga Yoshimochi (1386-1428) sucedeu a Yoshimitsu e logo começou a desfazer o que pôde das obras e atos de seu pai. Ele inclusive demoliu palácios que haviam sido construídos pelo pai e desfez acordos de comércio com a China.
O segundo volume se inicia quando já fazia três anos que Ashikaga Yoshimitsu havia morrido. Foi uma morte repentina, o xogum tinha apenas 49 anos. O Japão entrava em um período de maiores turbulências, com os filhos de Yoshimitsu disputando o lugar que havia sido do pai. É o início da decadência do xogunato, que vai resistir até 1573, mas a cada ano mais enfraquecido. Após a queda dos Ashikaga, o país passa por um período de transição até o início do xogunato Tokugawa, em 1603.
A série norte-americana Shogun, de 2024, descreve o período posterior à queda dos Ashikaga e mostra o início do xogunato Tokugawa.
Tadanobu Asano é Kashigi Yabushige em uma cena da série Shogun (2024). A série mostra o período posterior ao fim do xogunato Ashikaga. O ator Tadanobu Asano protagonizou o filme Nejishiki, criado a partir da obra do quadrinista Yoshiharu Tsuge.