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Os 10 melhores editores de quadrinhos de todos os tempos (parte 1)

Rogério de Campos, editor da Veneta, fala sobre os seus editores de quadrinhos favoritos 

*Por Rogério de Campos

Oreste del Buono

Em 2013, Ranieri Polese, jornalista do Corriere della Sera, escreveu um texto chamado “Um silêncio ensurdecedor”, no qual denunciava “o esquecimento escandaloso de quase todo trabalho cultural realizado pela OdB, do qua

l hoje todos nós vivemos, sem mesmo ter o escrúpulo de declarar nossa dívida. Nada. Como se ele nunca tivesse existido, como se não fosse a sua curiosidade inquieta que nos abriu novos mundos”. Então declaro aqui minha dívida para com Oreste del Buono (1923-2003), que, discreto, assinava OdB. 

Romancista, tradutor (de Gide, Bataille e Maupassant, mas também de Chandler), jornalista, descobridor de tantos novos talentos, colunista de futebol, mas principalmente um editor. Passou por todas as grandes editoras e por

quase todas a grandes publicações da Itália (definido por alguém como um demissionário serial, não gostava de brigar e quando o trabalho deixava de ser divertido, ele o abandonava, nas suas palavras “preferiva di no”).

Para mim foi mais que tudo o editor da Linus, a revista mais elegante dos quadrinhos mundiais. Eu nem era um fã da maior parte dos quadrinhos publicados, mas todos eles, combinados com aqueles textos e aquela diagramação tão elegante, faziam da Linus a principal referência de qualidade nos quadrinhos ocidentais. 

Harvey Kurtzman

Ele foi um dos grandes quadrinistas do século XX. Seu modo de narrar o movimento revolucionou os comic books. Na lista dos 100 melhores quadrinhos de todos os tempos feita pela revista Comics Journal tem cinco gibis que Kurtzman desenhou e escreveu, ou pelo menos escreveu (dois deles a Veneta publicou: O Livro da Selva e O Cadáver do Rio Imjin). 

 

Depois de Robert Crumb, é possivelmente o quadrinista norte-americano que mais influenciou o quadrinho ocidental a partir da segunda metade do século XX (até o Asterix foi criado por Goscinny e Uderzo sob a forte influência de Kurtzman). Mas, apesar de tudo isso disso, ele é mais lembrado como editor, porque inventou a revista Mad, que foi o melhor comic book de todos os tempos enquanto ele foi o editor. 

Ele também criou a Help, que foi a melhor revista dos Estados Unidos durante os cinco anos que existiu (1960-1965). Além dos colaboradores habituais de Kurtzman (Will Elder, Jack Davis, Al Jaffee e John Severin), a Help tinha, por exemplo, Terry Gilliam e John Cleese (sim, foi na Help que começou a nascer o Monty Python), Woody Allen e Gloria Steinem, e os jovens estreantes Robert Crumb e Gilbert Shelton

Paul Buhle

Para começar, Paul Buhle é autor de uma clássica biografia de C.L.R. James elogiada pelo próprio C.L.R. James, e é também co-autor (com Denis Kitchen) de uma biografia de Harvey Kurtzman. Ele foi o editor da Radical America, a revista da SDS (Students for a Democratic Society), que foi a maior organização de esquerda nos Estados Unidos dos anos 1960. A Radical America teve papel muito importante na divulgação do pensamento de marxistas como C.L.R. James, mas, seguindo o exemplo de James, falava também de cultura popular. E para uma de suas edições, chamada Radical America Komiks, Buhle convidou Gilbert Shelton e fizeram uma edição inteiramente dedicada aos comix underground e aos principais temas deles: maconha, sexo, violência policial, resistência anticapitalista… Essa edição é um dos melhores gibis do movimento underground. Buhle também é um dos maiores especialistas a respeito do impacto do macarthismo em Hollywood, com diversos livros sobre o tema. 

Vejo a minha estante e ela está cheia de livros de Buhle sobre marxismo, anarquismo, feminismo e luta antiracista, quadrinhos, Hollywood… Quando perguntei a ele a respeito de sua trajetória intelectual, respondeu: “Aos 12 anos, eu era já realmente muito fã do Kurtzman e seu gibi Mad (a revista Mad que veio depois era bem menos feroz e mais juvenil), então foi Kurtzman/Willie Mays/MLK/Lenny Bruce (e o movimento pelos direitos civis) e então Diane DiPrima/Ferlinghetti e então… passados poucos anos… Daniel DeLeon/marxismo… três anos depois… C.L.R. James”. 

Buhle já me ajudou diversas vezes com indicações de leituras, informações sobre quadrinhos ou, por exemplo, história do marxismo nos Estados Unidos, C.L.R. James e W.E.B. Du Bois (ele acaba de editar um livro a respeito). Sou amigo e fã.

Josep Maria Berenger

É simples, a Veneta foi criada por causa do Joseph Berenguer. Explico isso em um dos primeiros textos que fiz para este blog. E repito aqui.

https://veneta.com.br/blog/aprendendo-a-voar-o-primeiro-voo/

 

 

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