por Rogério de Campos
Osamu Tezuka não inventou os mangás. Quando ele surgiu, os quadrinhos japoneses já tinham uma história de séculos. O que Tezuka fez foi inventar de novo os quadrinhos japoneses. Abrir novas possibilidades a partir de sua particular fusão de elementos tradicionais com a cultura visual norte-americana, a gramática do cinema, a literatura russa, o teatro de Ibsen, a música de Mussorgsky…
Então Tezuka inventou sim os quadrinhos, a cada nova obra que produzia. Muitas vezes, eram várias invenções por obra. Vejam, por exemplo, algumas das páginas de Ayako.
Os dois irmãos conversam. O mais velho reclama que a reforma agrária imposta pelo
governo de ocupação abalou o poder e a riqueza da família. Apesar das aparências, a
relação entre os dois irmãos é muito tensa. O mais jovem, que perdeu um dos olhos na
Guerra, sabe que o mais velho trapaceou para tomar toda a herança da família. No quarto
quadrinho, o olho vê tudo, mergulhado na escuridão.
E, sobre eles, a árvore grande, antiga, imponente, e suas sombras ameaçadoras.
Na estação, em meio à multidão, o criminoso espera a chegada do homem que irá ser morto.
Na estação, em meio à multidão, o criminoso espera a chegada do homem que irá ser morto.
Depois que este chega, ambos caminham juntos silenciosamente. Cada um deles já sabendo o destino que lhes cabe.
Depois que este chega, ambos caminham juntos silenciosamente. Cada um deles já sabendo o destino que lhes cabe.
Oryo percebe tarde demais que está em perigo.
Oryo percebe tarde demais que está em perigo.
A tradicional festa acontece como a centenas de anos. É linda, mas assustadora.
A tradicional festa acontece como a centenas de anos. É linda, mas assustadora.
Apenas a menina inocente sorri. No fim da página estão os dois policiais e explodem os fogos.
Apenas a menina inocente sorri. No fim da página estão os dois policiais e explodem os fogos.
Perseguidor e perseguido em uma corrida de erros.
Perseguidor e perseguido em uma corrida de erros.
O Japão descarrilhado.
O Japão descarrilhado.
O Japão descarrilhado.
O Japão descarrilhado.
A onomatopeia de chuva chove pela página. É tão bonita que pedi para o Ayala (que fez as letras) deixar a legenda fora do desenho, no pé da página.
A onomatopeia de chuva chove pela página. É tão bonita que pedi para o Ayala (que fez as letras) deixar a legenda fora do desenho, no pé da página.
Muitos anos depois, o homem retorna ao lugar onde cometeu seu crime. Mas ele já é quase um fantasma.
Muitos anos depois, o homem retorna ao lugar onde cometeu seu crime. Mas ele já é quase um fantasma.
Aqui a paisagem é quase a de um jardim zen. Um grandioso momento de paz, que se desmanchará logo na sequência.
Aqui a paisagem é quase a de um jardim zen. Um grandioso momento de paz, que se desmanchará logo na sequência.
A construção humana, de racionais linhas retas e modernas, se apequena quando comparada à natureza, caótica, grandiosa.
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