Renata Bueno: “Continuo gostando das mesmas coisas de quando criança”
por Seham Furlan
Quando criança, Renata Bueno tinha o hábito de escrever cartas para as amigas e guarda até hoje as correspondências recebidas pelo correio. Desenhar, nadar no mar, viajar são outras das atividades da infância que continuam presentes na vida dela.
Nascida em São Paulo, radicada em Portugal com uma temporada na Holanda, ela se inspirou nessa experiência de deslocamento pelo mundo, na sensação de ser diferente, para escrever seu novo livro Tem um urso na minha escola, ilustrado por Fernando de Almeida.
Batemos um papo com a Renata Bueno sobre infância, livros e ursos:
VENETA: Como surgiu a ideia do livro?
RENATA BUENO: O urso morava comigo há muito tempo, mas foi só agora, com meu filho na escola e eu também dando workshops em salas de aula, que o João resolveu nascer pro mundo. Acho que foi ele que pediu.
Vivo em Portugal e já vivi na Holanda também. Em muitas situações, percebemos que somos diferentes dos outros e isso, às vezes, nos faz pensar. Lembro de meu filho perguntar com certo receio: “Mãe, porque sempre somos os diferentes?”. O João faz cocô cor de rosa, e isso pra mim é tão bonito!
V.: Você conheceu algum “urso” na sua infância? Como ele era?
R. B.: Lembro de um urso que me mandava bilhetinhos na escola, e eu não sabia direito como lidar com aquilo… Principalmente porque as outras crianças riam dele. Ele era mais gordinho e não brincava nem fazia bagunça como todos os outros meninos.
Também sempre penso em ursos que tiravam notas ruins na escola e muitas vezes eram repreendidos por isso. Mais tarde, descobriram profissões que os encantaram, passaram a estudar e se tornaram adultos realizados.
V.: Você já publicou seis livros com o Fernando. Como é o processo de trabalho de vocês? E como foi especificamente no caso do “Urso”?
R. B.: Trabalhar com o Fê é sempre um prazer e uma desculpa para estarmos juntos. No caso do urso, infelizmente não estávamos juntos fisicamente mas trocamos muitas ideias, rimos bastante, lembramos de histórias e tivemos mais vontade ainda de nos reencontrar! O Fernando é um urso, certeza. E gosto tanto dele!
Pensamos juntos que o João era tão grande que quase não caberia no livro, e o Fê ilustrou assim. Trouxe doçura para uma criatura enorme! Adoro a página dupla com a brincadeira de bonecos de dedo com a ursa mãe brigando com o urso filho. De quem serão aqueles dedos que contam essa história com os bonecos? Podiam ser meus, do Fê…
Cada livro é sempre diferente do outro. Temos uma coleção e um outro livro feito com mais mãos: minhas, do Fernando e da Mariana Zanetti. Foram feitos num momento muito especial da minha vida, quando meu filho nasceu, e eles estavam lá, acompanhando de pertinho, eu mãe de um bebê tão pequenino. Aqueles momentos juntos, recortando papéis, pintando, conversando e sonhando estão guardados no meu coração. Tenho muita sorte de fazer o que gosto e estar rodeada por amigos tão talentosos.
O Fê também ilustrou outro texto meu sobre monstros. É sempre um presente ver os desenhos dele surgindo!
V.: Você gostava de ler quando criança? De quais livros/autores se lembra?
R. B.: Eu li muito a Eva Furnari. Amava e amo a Bruxinha. Também gostava da Turma da Mônica. Mas lembro mesmo de alguns livros que me marcaram: Ou isto ou aquilo, da Cecília Meireles, Raul da Ferrugem Azul, da Ana Maria Machado; A bolsa amarela, da Lygia Bojunga; Marcelo Marmelo Martelo, da Ruth Rocha, O menino Maluquinho, do Ziraldo…
V.: O que mais você gostava de fazer quando criança?
R. B.: Desenhar sempre foi parte de mim. Minha mãe conta que eu desenhava na testa das bonecas e depois as colocava para dormir. Também fiz cerâmica muitos anos. Adorava e adoro até hoje. Viajar, nadar no mar, andar de bicicleta, estar com amigos, escrever cartas… Acho que continuo gostando das mesmas coisas de quando criança.
V.: E quando começou a gostar de escrever? E de desenhar?
R. B.: Eu, adolescente, escrevia cartas para as amigas. Tenho um pacote de cartas que recebi delas também. Guardo com muito carinho. Também tive professores muito especiais de literatura e de redação. O Carlos Faraco e o Chico Moura, amigos e inspiradores. O primeiro livro que publiquei com texto meu foi um processo um pouco invertido. Meu “Autorretrato” nasce com uma série de desenhos e, a partir dos desenhos, construo os textos. Pra mim, a imagem serve muito como disparo para a escrita também.
V.: O que podemos aprender com o urso João?
R. B.: Aprender não sei. O livro não foi feito para ensinar nada.
Mas penso em livros como amigos nos quais podemos encontrar consolo, diálogo e inspiração. Quem sabe o urso João vira o melhor amigo de algum pequeno ou grande leitor!
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