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JC, o vampiro – Versículo IV

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Por Rafa Campos Rocha*

– Bom, a primeira coisa é aprender a lidar com seu novo corpo. Está com fome? Eu não sinto fome de verdade há mais de cinquenta anos.

Pantera parecia mais animado com minha ressurreição do que eu mesmo. Na verdade, Pantera era um sujeito otimista e sorridente, um verdadeiro contraste com os vampiros taciturnos e esnobes que conheci depois, por intermédio dele próprio. Despedaçar vampiros esnobes era das coisas que mais o animavam e o deixavam otimista.

– Estou fedendo – foi o que consegui dizer, olhando para o meu corpo nu, coberto pelas mais repugnantes substâncias que o corpo humano podia produzir.

– Ótimo – ele se entusiasmou – tem um riacho a pouco mais de dez milhas daqui, ao lado da guarnição.

Não parecia uma ideia muito boa aproximar-se de uma guarnição romana, nu, acompanhado por um comandante desertor que havia assassinado os seus próprios homens. Quando expus essas ideias para Pantera, ele olhou um pouco para uma pequena oliveira morta, logo adiante, coçando o queixo. A oliveira deve ter ajudado, porque ele pareceu ainda mais animado do que antes.

– É uma ótima oportunidade para testar sua nova força e velocidade, Yeshua! Em quanto tempo você acha que chegaria nesse riacho, andando em linha reta? Estamos no Deserto do Norte…

– Deserto do Norte? Mais fica a mais de 15 milhas! Iríamos demorar…dois dias!

– E se eu disser que, agora, você pode correr uma milha no tempo em que você corria 200 côvados?

– Acharia graça, se não estivesse confuso, fedendo e infeliz.

– Pois bem, então dê o primeiro passo – ele disse, em um sorriso.

Dei o primeiro passo e me desequilibrei, caindo. Na verdade, não encostei o tronco no chão, porque meus braços, estranhamente, me sustentaram.

– Ótimo! Tente de novo.

Olhei irritado para trás e me levantei, usando os joelhos e os braços.  Fui parar seis passos adiante, como se tivesse sido arremessado. Caí de novo como um gato, instintivamente. Me levantei com cuidado, dessa vez.

– O que você fez comigo?

– Os gregos chamam de vrykolacas. Mas não parecemos esses caras. Eles estiveram realmente mortos, e têm o cérebro podre. Um…uma coisa me chamou de Upir, por conta de Ur, onde fui concebido.

– Estou na mesma.

– Vai demorar uns dias pra entender. Eu mesmo entendo muito pouco, depois de todos esses séculos. Tente me alcançar.

Pantera passou por mim trotando, suavemente. Na verdade, tão suavemente que parecia flutuar. Quando dei por mim, ele já estava a 30 passos de distância.

– Hei! – 50 passos.

– Pantera! – 80 passos.

Tentei imitá-lo, dando um passo suave. A perna direita pousou a quatro côvados de distância da esquerda e eu quase perdi o equilíbrio de novo. Gritei mais uma vez por Pantera e dei mais um passo. Quase caí, mas apoiei dessa vez somente uma mão no chão e arrisquei o terceiro passo. Ou salto, que era como parecia. Levantei a vista e Pantera já era uma pequena nuvem de poeira, no horizonte. Tentei de novo e olhei para trás. A oliveira morta já era do tamanho de um graveto. Dessa vez iria arriscar três passos sem interrupção e a coisa foi um pouco melhor. Na verdade melhor do que eu esperava, porque já estava no sétimo passo.

Comecei a trotar. As vezes que perdia o equilíbrio, usava as mãos, como um animal, para ficar de pé, mas no geral eu vinha conseguindo me deslocar, na direção onde havia desaparecido Pantera.

Foi só depois de muito tempo que me dei conta que não estava confuso e achando que flutuava, ou trotava muito rápido. Na verdade, eu estava confuso, mas eu realmente estava trotando mais rápido do que um cavalo persa! Foi aqui que realmente me entusiasmei e comecei a correr.

Alcancei Pantera em pouco tempo e o encarei, enquanto corria.

– Parece que alguém aqui reaprendeu a andar…- Pantera me olhava com algo muito próximo do orgulho paternal. Em resposta à sua observação, sorri ferozmente e apertei o passo, tentando alcançar o máximo de velocidade possível.

– Yeshua, cuidado…

Sua voz já estava distante, e olhei debochado para trás.

Devo ter sido a única pessoa – ou vampiro – a desmaiar trombando com uma montanha.

 

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* Rafa Campos Rocha é autor de LOBAS

 

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