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Veneta Entrevista: Marcelo Bicalho

Ilustrador, designer gráfico, artista visual e professor universitário, Marcelo Bicalho deixou sua marca na história das HQs nacionais no início dos anos 1990, publicando histórias curtas nas lendárias revistas Animal e Mil Perigos. Agora, mais de vinte anos depois, ele retorna com tudo em seu primeiro livro autoral de quadrinhos: Pecora, que chega em janeiro, abrindo com chave de ouro a temporada de lançamentos da Veneta em 2020.

Sem diálogos, com quadros amplos pincelados por um traço denso e onírico, o livro narra as desventuras de uma ovelha perdida no mundo dos sonhos e pesadelos. Na expectativa do lançamento, Bicalho concedeu uma entrevista especial para o nosso blog, contando um pouco mais sobre o processo criativo da obra, bem como suas influências e principais fontes de inspiração:

 

-Marcelo, eu queria saber como foi sua carreira depois da Revista Animal? Você seguiu fazendo quadrinhos ou passou a se focar em outras formas de arte? Pode-se dizer que Pecora é um retorno?

Bicalho: Publiquei quadrinhos em revistas, fanzines e na web, continuei ilustrando para livros infantis, juvenis e publicidade, trabalhando em mídia física, digital e escultura em papel. Mantive paralelamente vida acadêmica como professor de história da arte, projeto gráfico, estruturas em papel, desenho e composição. Ao longo desse período o estúdio foi se tornando mais autoral. Hoje leciono, mas me dedico bem mais ao livro, em projetos próprios e de ilustração para outros autores. Pecora é sim, um retorno, primeiro de vários trabalhos em andamento.

– O Rogério de Campos diz que uma das coisas que ele mais gosta no seu trabalho é como você se adapta. Dependendo do que a história pede, você tem a versatilidade de mudar seu traço e estilo de narrativa. O que você acha que Pecora pedia? Como você chegou a esse resultado?

Bicalho: Pecora pedia um ambiente que parecesse um pouco fora do tempo e do espaço. Por isso a remissão à gravura, e a luz sempre um pouco artificial, fabricada, luz cênica mesmo. À medida que desenhava visitei Goya, Rembrandt, Doré e naturalmente William Blake, de quem acabei emprestando a epígrafe. Mas nada foi pensado de antemão.

– Há alguma influência mais clara no trabalho? Algum artista com que você teve contato nesse meio tempo e enxerga no resultado final? Pode ser algo fora do campo dos quadrinhos.

Bicalho: A memória mais antiga de algo parecido foram as ilustrações que fiz para A Metamorfose, de Kafka, trabalho de faculdade, quando conheci Escher e também a gravura expressionista. A distorção de anatomia e perspectiva busquei também em vários artistas e ilustradores. Citaria Jack Unruh, Bernie Wrightson, Frances Jetter e muitos outros. Mas não me prendo ao estilo de um único artista, aciono cada recurso gráfico conforme a narrativa exige. Com relação à narrativa sem palavras, devo muito ao filme expressionista e a um certo tipo de romance gráfico que era feito (primorosamente, digo com toda a admiração) no começo do século XX pelo americano Lynd Ward e pelo belga Frans Masereel. Também a graphic novel Os olhos do gato, de Moebius, foi um conceito de obra que me impactou, embora não me identifique tanto com a poética. Houve também A Chegada, de Shaun Tan, que teria me influenciado com certeza, mas conheci já quase terminando Pecora

– Você diria que Pecora é uma obra difícil de descrever ou encaixar em algum gênero? Como você definiria a história?

Bicalho: Acho que visita alguns gêneros sem pertencer realmente a algum deles. Tem algo de fábula; de história de crescimento; Pecora é também uma narrativa de fantasia, onírica e dura, como o próprio conto “de fadas” foi antes de ser adoçado no século XX.

– E de onde surgiu a ideia de um quadrinho que parte do ponto de vista de uma ovelha? Como começou o projeto?

Bicalho: Questões sobre a inocência, a experiência e o lugar do indivíduo no mundo se traduziram num sonho, que continha a primeira parte da história; desenvolvi a narrativa quase até o fim de uma vez só, à maneira de um storyboard. Mas faltava o final, ficou quase uma semana sem, até que entendi como terminar. Apresentei a um edital como projeto de animação, não deu. Ficou anos na gaveta. Em 2013 retomei e comecei a desenhar de fato, naturalmente a estética evoluiu e se apurou, até 2017 quando a concluí.

 

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